De Pindamonhangaba para o mundo.

Pindamonhangaba fica no interior de São Paulo, há exatamente 150 kilometros da Capital.Uma cidade pacata, estranha, com toque de recolher, onde as pessoas somem às 22:00 da rua, os bares fecham e o que ficam são só os lugares subterrâneos, onde tudo pode acontecer. Só quem sabe o lugar dessas passagens pode afirmar que existe vida noturna em Pindamonhangaba. E é daqui, dessa subterraneidade que eu observo e escrevo tudo aquilo que acontece aos arredores do meu cotidiano.

23 junho 2006

Por Thiago.

Enquanto a cor púrpura não desapareceu daquele céu de fim de tarde, não se ouviu qualquer ruído vindo da casa. Há anos ela estava abandonada; fazia anos que aquele assoalho não sentia sobre si o peso de um corpo; houve ali, todos os dias, um casal de pássaros que insistia na procura por algum tipo de alimento que pudesse se esconder entre aquelas tábuas...

Um rangido, foi o que se ouviu. O primeiro som distinto daquilo que há anos ouvia-se naquela casa. E não era um rangido qualquer: vinha da soleira, na varanda. Alguém tentava entrar na tal casa.

Houve um primeiro rangido, seguido de um longo suspiro e mais três fortes ruídos. Alguém estava andando de encontro à porta. E pairava, no interior da casa, um ar de dúvida por parte dos móveis cobertos por duas camadas de poeira – uma antiga, presente desde o início dos anos; e uma outra que aparece com as primeiras brisas do nascer do Sol e que vai embora quando terminam os movimentos matinais. Vê-se nos lençóis que cobrem as camas no segundo andar, marcas de mãos as quais nunca desaparecem – não importando a insistência das camadas de pó.

No quinto rangido, percebe-se a união de duas mãos – como quem reza – e um outro suspiro. Mais rápido do que se possa entender, os rangidos (tidos, depois, como passos) aumentam em número e velocidade. Alguém fugia. A casa, novamente, conseguiu manter afastado um intruso. Havia alguém na soleira, mas a imobilidade que prende a casa não permitiu ao visitante qualquer possibilidade de invasão.

Na calçada do outro lado da rua, uma senhora de lindos e longos cabelos negros, correu para o exato lugar onde, segundos antes, houve a marca de uma lágrima. Segundos antes, olhando de sua janela, ela viu uma menina (com grandes botas de couro preto) correndo em direção ao cais.

Naquele ponto, hoje, vê-se uma grande flor. E não há, ainda hoje, qualquer pessoa que se lembre da mulher que chorou e correu.

A casa, permanece.

posted by Fata @ 3:28 PM - Desenvolvimento de Sites (pura propaganda)